15 de agosto de 2010

Vitória sobre o pecado IV




Utopia ou realidade?

A vitória sobre o pecado é uma utopia ou uma realidade? Um grande debate existe nesta área, no entanto alguns questionamentos são relevantes: Deus é poderoso para nos livrar do adultério, mas não é poderoso para nos livrar do apetite sexual pervertido? Deus é poderoso para nos livrar da inveja mas não é poderoso para nos livrar da vaidade? Deus é poderoso para nos livrar do roubo mas não da cobiça? Deus é poderoso para sustentar Cristo, e Cristo manter-se ligado a Ele (João 5:19) por 33 anos sem pecado e garantir a salvação para o ser humano mas não é poderoso para o ser humano ter uma vida guiada, sustentada e transformada pelo Seu Espírito tal como Cristo? Utopia é dizer que Deus não é poderoso!

O apóstolo Judas no verso 24 nos garante que Deus “...é poderoso para vos guardar de tropeçar, e apresentar-vos irrepreensíveis, com alegria, perante a sua glória”. Deus “com alegria”, ou seja, com prazer o Senhor nos concede poder para tornar-nos irrepreensíveis e sermos por fim apresentados perante a Sua glória. Forte e poderoso é o Senhor para nos livrar de toda e qualquer tendência pecaminosa seja herdada ou cultivada, pois “...o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.” (1 Tess. 5:23) e o Espírito de Profecia reforça: “Deus não nos deixou lutar com o mal em nossa própria, limitada força. Sejam quais forem nossas tendências herdadas ou cultivadas para o erro, podemos vencer, mediante o poder que Ele nos está disposto a comunicar.”¹. Deus está disposto a nos conceder poder porém tem-se apresentado muitas vezes a mentira com face de verdade: não é possível vencer o pecado, nascemos com ele e morreremos com ele. Mas há uma pergunta que gostaria de vos transmitir: “...continuaremos a pecar como se fosse impossível vencermos? Como devemos vencer? Como Cristo venceu, e esta é a única maneira.”²

A vitória de Cristo sobre o pecado é nosso grande estimulo e exemplo afinal de contas Cristo é nosso substituto ou nosso modelo? A resposta é: os dois. Cristo substituiu nossa morte eterna e gratuitamente nos oferece esse mérito, contudo Ele também é nosso modelo, um modelo que possui um padrão alcançável pela fé. Cristo habitando pelo Seu Espírito no homem interior, tendo pela fé em nossos corações o Rei do universo e fundamentados em amor (Efésios 3:16 e17), será possível vencer. Deus assim poderá operar tanto o Seu querer quanto o efetuar da Sua boa vontade como nos diz o apóstolos Paulo em Felipenses 2:13.

“Não vos assenteis na poltrona de Satanás, dizendo que não adianta, que não podeis deixar de pecar...”³ diz o Espírito Santo através de Sua serva. Satanás declarou que era impossível viver sem pecar, não desejo de forma alguma ter as palavras do príncipe das trevas em meus lábios, não as ouso declarar. Professos cristãos levantando o estandarte de Satanás proclamam em alta voz que é impossível viver sem pecar e que jamais seremos vencedores, estão fazendo das palavras do grande enganador a suas e enganado a si mesmo e a outros. Vencer como Cristo venceu é o alvo do cristão, alvo que deve ser alcançado.

Em Apocalipse 3:21 Cristo a testemunha fiel e verdadeira que não pode mentir e visa salvar as almas (Provérbios 14:5 e 25), nos diz que alguém vencerá como Ele venceu e assentar-se-á junto em Seu trono. O que Cristo venceu? Cristo venceu o mundo e tudo o que nele há, passaremos por aflições mas devemos ter bom animo, pois o mundo está vencido (João 16:33).

O mundo é constituído por três pontos segundo o apóstolos João em sua 1ª epístola no capítulo 2 versos 15 a 17:

•Concupiscência da carne;
•Concupiscência dos olhos;
•Soberba da vida.
A palavra concupiscência significa profundo ou forte desejo. Os profundos desejos da carne, a glutonaria, o sexo pervertido, a música, o vestuário, a sensualidade e etc, os profundos desejos dos olhos, a inveja, a cobiça, o adultério, o roubo e etc, a soberba da vida, a ambição, poderes e bens materiais foram vencidos por Cristo e devem ser vencidos por Seus servos, afinal de contas o evangelho eterno é o poder de Deus para a salvação daquele que crê (Romanos 1:16). Mas salvar do que, você pode se perguntar. Salvar do pecado é a resposta (Mataus 1:21). “Ele não veio salvar o homem no pecado, mas do pecado. E todos que sentem a necessidade de um Salvador, e vão até Ele crendo em Seu poder, obterão a vitória sobre o pecado.”4

Mas, ainda “...que um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema.” diz o apóstolo em Gálatas 1:6-10. Sejam homens de boa fala e reverente aparência, seja pastor, seja membro, seja profeta e seja até mesmo um anjo ao falarem de outro evangelho senão o poder de Deus para salvar o homem do pecado seja ANÁTEMA. “Podem os homens professar crer no evangelho; mas a não ser que sejam por ele santificados, nada vale sua religião. Se não obtiverem vitória sobre o pecado, este estará obtendo vitória sobre eles.”5.

Servos ou livres? O que somos!? Deus anceia nos libertar, mas até onde estamos dispostos a abrir mão do nosso EU e sobre a Pedra nos quebrantarmos? Uma vida de orgulho, de amor ao mundo e aos prazeres nos levará ao inferno. Temos nós real consciência do preço pago por Cristo e qual o resultado de rejeitar essa divida quitada em nossa vidas? Nós entendemos realmente o que nos aguarda caso sejamos condenados perante o tribunal de Deus?

Venceremos o pecado ou ele nos vencerá, duas escolhas, dois resultados e dois destinos sendo ambos eternos. Qual você escolherá, a vida ou a morte eterna? Contudo “a condição de vida eterna é hoje justamente a mesma que sempre foi - exatamente a mesma que foi no paraíso, antes da queda de nossos primeiros pais - perfeita obediência à lei de Deus, perfeita justiça.”6 e “se as portas da santa cidade se hão de abrir para nós completamente, se havemos de ver o Rei em Sua beleza, temos de vencer agora como Cristo venceu. ... Ele depôs Suas vestes reais, Sua alta autoridade, as riquezas, e por amor de nós Se fez pobre, a fim de podermos entrar na posse de uma herança imortal. Em nosso favor Ele enfrentou e venceu o príncipe das trevas”7.

Que o Senhor nos abençoe...


Referências
1- A Ciência do Bom Viver, págs. 175 e 176;
2- Mensagens Escolhidas, vol. 3, pág. 195;
3- Cuidado de Deus – MM 1995, pág. 110;
4- ST, February 24, 1898 par. 13;
5- Parábolas de Jesus, pág. 50 e 51;
6- Caminhos a Cristo, pág. 62;
7- Filhos e Filhas de Deus – MM 1956, pág. 371.

Vitória sobre o pecado III




Resultado e Penalidade

Agora, precisamos justificar a hipótese de que há uma diferença entre os conceitos de mal e culpa. Em Gênesis 2:17, uma penalidade clara e distinta é cominada para a rebelião contra Deus. Deus disse a Adão: "Não coma da árvore do conhecimento do bem e do mal, porque no dia em que ela comer, certamente você morrerá." Temos estado intrigados com esse verso porque ele é claro a respeito de que, quando Adão comeu do fruto que Eva lhe deu, ele não morreu naquele dia.

Temos dito algumas vezes: Pois bem, ele começou a morrer. Mas o texto hebraico simplesmente diz: "No dia em que dela comer, certamente você morrerá." Essa tradução é perfeita. Então, por que Adão não morreu naquele dia? "Não era a penalidade de morte imediatamente obrigatória nesse caso? Sim, mas um resgate foi provido. O Unigênito Filho de Deus voluntariamente tomou o pecado do homem sobre Si mesmo, para fazer expiação pela raça decaída." — Comentários de Ellen G. White, S.D.A. Bible Commentary, vol. 1, pág. 1082. "No momento em que o homem aceitou as tentações de Satanás e praticou coisas que Deus havia dito não fossem feitas, Cristo, o Filho de Deus, Se pôs entre os vivos e os mortos, dizendo: ‘Que a punição caia sobre Mim. Eu estarei no lugar do homem. Ele terá outra oportunidade.’" Idem, pág. 1085. "Assim que houve pecado, houve um Salvador... Logo que Adão pecou, o Filho de Deus Se apresentou como Fiador da raça humana, justamente com o mesmo grande poder de evitar a ruína pronunciada sobre o culpado, que possuía quando Ele morreu sobre a cruz do Calvário." Idem, pág. 1084.

Por que Adão não morreu naquele dia? Por causa do Substituto que Se colocou entre a penalidade do pecado e Adão nesse mesmo dia. Jesus Cristo assumiu o lugar de Adão. Talvez isso nos ajude a compreendermos Apocalipse 13:8, onde é dito que o Cordeiro foi morto desde a fundação do mundo. Como Fiador do homem, Jesus, com efeito, pagou a penalidade naquele dia, intervindo entre Adão e a sentença do pecado.

Logo após, Adão ofereceu o primeiro sacrifício animal, significando para ele que o Filho de Deus morreria em seu lugar. Assim, a penalidade do pecado de Adão foi paga imediatamente por Jesus Cristo. Nosso Senhor assumiu de pronto o lugar de Adão.

Mas Adão iria pagar por essa penalidade? Teria ele de morrer para pagar por seu pecado? Por que Ele faleceu 930 anos mais tarde? Ou ele morreu simplesmente como resultado das inerentes conseqüências do pecado?

De fato, é-nos dito que sua morte foi uma bênção, porque ele teve de suportar muita agonia pela consciência de que seu pecado produziu todas as demais transgressões, dores e sofrimentos que havia testemunhado durante 900 anos. Portanto, sua morte foi realmente um alívio. Essa morte, a morte natural que Adão sofreu, foi o resultado do pecado antes que a penalidade do pecado. A penalidade foi paga por Jesus Cristo. Adão ofereceu um cordeiro, mostrando compreender que a penalidade da morte foi paga. Mas a maldição, as inerentes conseqüências do pecado, permaneceram.




Isso significa que precisamos dividir a idéia básica de pecado em duas colunas separadas. A coluna do lado esquerdo é denominada MAL, e inclui todas as coisas que inerentemente resultaram do pecado, e tudo o que conduz à morte a partir desse mal. Mas essa morte, que Jesus denominou sono, não é o fim do homem. Assim o mal e seus resultados conduzem à morte, ao sofrimento e a todas as coisas negativas que vemos ao nosso redor.

A coluna da direita é chamada CULPA. Ela trata da segunda morte ou inferno, que é a penalidade pelo pecado. Por conseguinte temos duas conseqüências do pecado: a maldição — os resultados inerentes ao pecado — que seres humanos, animais e toda a natureza experimentam em geral e que conduz à primeira morte. Do outro lado temos a culpa, que dá origem à penalidade pelo pecado, a segunda morte, que já foi paga por Jesus Cristo. Se escolhermos a salvação de Cristo, nunca passaremos pela segunda morte.

É verdade que a expiação cobre ambas essas conseqüências do pecado. Mas eu gostaria de dizer que ela tem de tratar com a culpa, perdoando-a, e com os resultados do mal, recriando e restaurando o que a maldição do pecado atingiu. A expiação trabalha para restaurar todas as coisas segundo o plano original de Deus, mas ela não perdoa as áreas encontradas na coluna da esquerda. Apenas perdoa as áreas constantes da coluna da culpa, isto é, ela pode apenas perdoar a penalidade pelo pecado.

Dessa maneira, os termos justificação, perdão, salvação, evangelho, justiça e santificação, aplicam-se particularmente aos tópicos da coluna direita, aqueles que têm a ver com culpa, penalidade e inferno. Quero dizer que há uma diferença básica entre o resultado do pecado e a penalidade do pecado. Há uma diferença básica entre a primeira morte e a segunda morte, e as questões relacionadas com a condenação e a salvação pertencem particularmente à culpa e sua penalidade. É nessas áreas que precisamos nos concentrar quando falamos sobre justiça pela fé.

Agora, vamos dar uma olhada em alguns textos do Novo Testamento para ver se temos evidência posterior para essa distinção. Em Lucas 13:1-5, Jesus conta certa história para ensinar uma lição. Lucas registra que alguns dos presentes contaram a Jesus sobre os galileus cujo sangue havia sido misturado com seus sacrifícios. Em outras palavras, eles haviam sido mortos. "Jesus respondeu: Vocês pensam que esses galileus eram mais pecadores que todos os outros, por terem sofrido dessa maneira? Eu lhes digo que não! Mas se não se arrependerem, todos vocês também perecerão. Ou vocês pensam que aqueles dezoito que morreram, quando caiu sobre eles a torre de Siloé, eram mais culpados dos que todos os outros habitantes de
Jerusalém? Eu lhes digo que não! Mas se não se arrependerem, todos vocês também perecerão."

Vemos aqui que a morte dos galileus não foi o resultado direto de seu pecado. Jesus estava dizendo que eles e os outros sobre os quais desabou a torre de Siloé não eram mais culpados do que os demais homens por causa de sua morte. Aqui fica claro que a primeira morte, que eles sofreram, não estava ligada diretamente à sua culpa.

Em João 9:1-3, os discípulos, vendo um homem cego, perguntaram a Cristo: "Mestre, quem pecou; este homem ou seus pais, para que ele nascesse cego? Disse Jesus: Nem ele nem seus pais pecaram, mas isto aconteceu para que a obra de Deus se manifestasse na vida dele." Uma vez mais Cristo estava explicando que a cegueira do homem, a maldição com a qual fora ele afligido, não era o resultado de qualquer pecado pessoal, mas causada por uma debilidade herdada. Jesus faz aqui uma distinção entre culpa pessoal e os efeitos inerentes ou resultados do pecado.

Outro texto importante é João 5:24 e 25. A menos que compreendamos a distinção que estamos fazendo neste capítulo, suporemos que Jesus Se contradisse nessa passagem. "Eu lhes asseguro: Quem ouve a Minha palavra e crê nAquele que Me enviou, tem a vida eterna e não será condenado, mas já passou da morte para a vida. Eu lhes afirmo que está chegando a hora, e já chegou, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e aqueles que a ouvirem, viverão."

Jesus está dizendo que justamente agora, hoje, se crermos, temos a vida eterna. Agora mesmo, passamos da morte para a vida. Mas Ele continua dizendo: "Eu lhes asseguro: Quem ouve a Minha palavra e crê nAquele que Me enviou, tem a vida eterna e não será condenado, mas já passou da morte para a vida. Eu lhes afirmo que está chegando a hora, e já chegou, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e aqueles que a ouvirem, viverão." No verso 24, estamos livres da morte; temos vida eterna agora. No verso 25, aqueles que morreram ouvirão a voz do Filho de Deus na ressurreição futura. A menos que façamos essa diferenciação entre a primeira e a segunda morte, ver-nos-emos embasbacados com uma contradição inconciliável.

Cristo diz que temos a vida eterna nEle hoje. Estamos livres da penalidade da culpa. Fomos libertados e nunca passaremos pela segunda morte, a penalidade do pecado. Não obstante, excetuando-se aqueles que serão transladados, nós passaremos pela [primeira] morte que é cognominada um sono (tal como no caso de Lázaro). Depois ouviremos a voz do Filho de Deus e nos ergueremos do sono da primeira morte. Assim, mesmo aqueles que são perdoados e recebem a vida eterna ainda morrerão como resultado da maldição do pecado de Adão. Devemos morrer porque estamos num mundo que está perecendo. A primeira morte não é a penalidade pelo pecado, uma vez que aqueles que possuem a vida eterna também a sofrem. Posto em termos mais simples, vida eterna significa não à segunda morte, que é a penalidade do pecado. Outro texto que expressa esse pensamento de modo bem claro está em I João 5:12 e 13, no qual nos é dito que temos vida em Cristo hoje, agora, embora saibamos que iremos morrer.

Desse modo penso que temos boa evidência escriturística de que há duas diferentes conseqüências do pecado: (1) a maldição do pecado, que conduz à primeira morte, e, (2) a penalidade do pecado, que traz consigo a segunda morte.

Continua...

Jean R. Habkost
Baseado no Livro: Face to Face With The Real Gospel – Pr. Dennis E. Priebe

Vitória sobre o pecado II




O Pecado Como Escolha

Focalizemos nossa atenção na segunda definição de pecado, a saber, o pecado como escolha, como ato volitivo. Mediante essa definição estamos dizendo muitas das mesmas coisas que temos declarado nas várias explicações do pecado original.

Cremos que, na natureza original de Adão, nada havia que o levasse a rebelar-se contra Deus. Nenhuns desejos para desviá-lo da vontade divina. Para Adão era natural agir com retidão e antinatural agir erroneamente. Mas, com a queda, algo mudou em sua natureza, no profundo de seu ser. A queda fez com que Adão se inclinasse para o mal. Sua natureza estava agoradistorcida, e ele agora queria fazer o que havia odiado anteriormente, isto é, rebelar-se contra Deus. Agora, para Adão, era natural pecar. Agora, era contranatural agir justamente.

Diante disso, quando dizemos que herdamos a natureza decaída de Adão, precisamos entender o pleno significado dessa assertiva. Recebemos o legado de maldade, fraqueza e corrupção de nosso primeiro pai. Temos os mesmos desejos que Adão possuía em seu estado pecaminoso. Queremos fazer coisas erradas; queremos rebelar-nos contra Deus. É-nos muito difícil fazer o que é certo. É-nos mais natural praticar coisas erradas. Penso que, se formos honestos conosco mesmos, admitiremos que, na maioria das vezes, somos todos nossos próprios tentadores. Realmente, não necessitamos de que Satanás nos persiga e nos tente com todo o tipo de sugestões, porque somos bem capazes de tentar-nos a nós mesmos. Nossa natureza nos desencaminha. O egoísmo está na própria raiz de nossa vida, incitando-nos a fazer coisas que sabemos que não deveríamos perpetrar [fazer]. Desse modo, herdamos tendências negativas de Adão, as quais nos impelem a fazer o que é errado.

A única diferença, nessa definição relativamente à prévia acepção de pecado, é que não herdamos culpa ou condenação. Herdamos tudo aquilo que Adão nos podia transmitir. Herdamos todas as inclinações, todas as tendências, todos os desejos, e nascemos de uma maneira que Deus jamais pretendeu que acontecesse com o homem. Mas essa definição diz que o pecado pessoal procede da escolha; pecado, em si mesmo, não é herdado. A culpa, então, não provém da natureza. Quando, porém, escolhemos rebelar-nos contra a luz e os deveres conhecidos, então tornamo-nos culpados. Precisamos optar pela decisão de Adão, a decisão da rebelião contra Deus, e então passamos a ser incriminados.

Temos de admitir que a natureza pecaminosa torna mais fácil pecar, fazer escolhas pecaminosas. Mas o ponto que eu gostaria de destacar é que somos culpados quando fazemos essas opções e não antes disso. Por conseguinte, creio que temos de distinguir cuidadosamente entre os conceitos do mal e da culpa.

Já esboçamos as duas definições básicas de pecado. Dependendo de qual delas acatarmos, as questões da justiça pela fé serão retratadas de modo diferente. As decisões feitas sobre justificação e santificação serão diferentes, consoante a opção feita sobre a natureza do pecado.

Mal e Culpa

Se definirmos o pecado como escolha, precisamos fazer uma distinção entre mal e culpa. Há muito mal no mundo hoje, mesmo no mundo animal. Mas não atribuímos culpa a todo mal que é aparente em nosso mundo moderno.

Uma de minhas ilustrações favoritas é a de um animal doméstico comum, o gato. Gostamos dos gatos que se aninham em nosso colo ou em nossos pés, que gostam de ser afagados, que correm para o seu prato de leite morno. Mas, algumas vezes, nos esquecemos de que há um outro lado dos nossos bichanos. Você já observou que os gatos não são misericordiosos com os camundongos que eles caçam para sua próxima refeição? Quando conseguem capturar um camundongo, eles não põem logo fim à miséria do roedor, mas antes brincam com ele. De fato, eles o torturam até que o camundongo descubra que lhe é fisicamente impossível fugir e finalmente desiste.

O que faríamos com alguém que torturasse um animal ou outro ser humano da mesma forma? Consideraríamo-lo culpado dos mais hediondos dos crimes e provavelmente o trancafiaríamos pelo resto de sua vida. Mas o que fazemos com um animal que faz isso, com nosso gato? Dizemos que isso é parte de seu modo de vida. Não é bom que o camundongo sofra, mas o gato não é culpado. Assim vemos alguns atos como maus, mas também como parte dos resultados naturais do pecado, e outros atos como maus pelos quais seu praticante pode ser considerado culpado.

Agora, tragamos isso para o nível humano. Se estivermos fincando uma estaca e pedimos a um amigo que a segure a fim de podermos fixá-la melhor, é possível que erremos a estaca e atinjamos o polegar do amigo. Seu dedo vai doer, ficar branco e levar algum tempo para ser curado, mas nosso amigo provavelmente não irá nos acusar de qualquer culpa pessoal. Por certo irá considerar o incidente como desafortunado.

Vamos dar um passo mais além para tirar conclusões. Se uma criança pequena estiver brincando com um revólver e quase atingir sua irmã ou seu irmão mais velho, certamente tomaríamos a arma das mãos da criança e nos asseguraríamos de trancar melhor nossas armas de fogo para o futuro. Não condenaríamos ou julgaríamos essa criança como culpada. Mas se um jovem de vinte anos apanha uma arma e atira em alguém, nós imediatamente começamos a fazer perguntas como: Por quê? Queremos saber, antes de qualquer coisa, se ele é culpado de dolo.

Assim, existe diferença entre os conceitos de mal e culpa. A palavra mal simplesmente significa o que é ruim, negativo ou errado, os resultados do pecado num mundo amaldiçoado. A culpa é aplicada à responsabilidade moral por atos ou pensamentos maus.

O que estou dizendo é que árvores e animais estão cheios de pecado e mal, mas eles não são condenados e nem redimidos por Deus, pois não possuem nenhum conhecimento de valores morais. Somente o homem tem a consciência dos valores morais e, por causa dessa ciência, é ele condenado como culpado por qualquer mau ato. Se crermos que o pecado ocorre por escolha, precisamos saber fazer a crucial distinção entre mal e culpa. Culpa exige conhecimento antecipado e rebelião voluntariosa. Estou querendo dizer que a condenação da parte de Deus é sempre fundamentada sobre o conhecimento anterior do homem. Tiago disse claramente: "Quem sabe que deve fazer o bem e não o faz, comete pecado." (Tia. 4:17)

Continua...

Jean R. Habkost
Baseado no Livro: Face to Face With The Real Gospel – Pr. Dennis E. Priebe

Vitória sobre o pecado I




O que é pecado?

Está semana na lição da escola sabatina estaremos estudando um tema muito fundamental para o cristianismo. Vitória Sobre o Pecado, o tema que revela o verdadeiro evangelho. Um dos grandes propósitos da vinda de Cristo a este mundo. Mas para entendermos melhor esse tema veremos algo a mais sobre pecado. Durante a semana uma série será publicada referente ao tema.

O que é pecado? Por que nos preocupamos com um assunto que parece ser tão negativo? Por que o homem é culpado? Por qual razão Deus condena um homem? Por que Deus diz que o homem deve perecer nos fogos do inferno? O que decidimos sobre o pecado afetará toda nova visão do Evangelho Eterno.

Talvez tenhamos admitido que sabemos o que é pecado. Pode ser útil buscarmos outra visão de nossas suposições e decidir por nós mesmos o que realmente queremos dizer quando usamos a palavra pecado. Todos sabemos que pecamos, mas como? Quando vamos ao médico ele precisa descobrir o que está errado antes de prescrever o tratamento. Assim também precisamos saber exatamente o que está errado com nossa vida antes de Jesus Cristo poder salvar-nos de nossos problemas — o pecado. Precisamos conhecer a natureza da doença para a qual o remédio será ministrado.

Voltemos um pouco atrás e consideremos o pecado que deu início a todas as dificuldades que agora enfrentamos neste mundo. Sabemos que Adão optou voluntariamente por pecar. Sabemos que ele se tornou culpado por causa de sua escolha. Mas, e nós? Somos culpados por causa do pecado de Adão, porque nascemos como descendentes dele? Somos culpados porque herdamos dele uma natureza decaída? Ou, somos culpados porque escolhemos repetir o pecado de Adão?

Desse modo retornamos mais uma vez à questão da natureza do pecado. O que o evangelho perdoa e cura? A questão básica que precisamos resolver é esta: Qual é a natureza do pecado pela qual a pessoa é considerada culpada, tão culpada que deve morrer nas chamas do inferno, a menos que Deus a perdoe? Qual é a natureza desse pecado?

Pecado Como Natureza
Agora precisamos começar com definições precisas. Muitas definições de pecado têm sido apresentadas ao longo dos séculos.

Certo grupo diz que nossa culpa é o inevitável resultado de algo chamado pecado original. De acordo com essa linha de pensamento, o pecado original não significa a escolha de Adão para pecar, mas o estado no qual somos nascidos por causa do pecado de Adão. Como resultado ou por causa do pecado de Adão, já nascemos pecadores. Embora a expressão pecado original tenha sido usada por muitos teólogos, talvez necessitemos afastar-nos dela como tal e falarmos sobre pontos que estão em seus bastidores. Algumas vezes os termos teológicos tendem mais a obscurecer do que esclarecer. O que a expressão realmente significa?

Pecado original pode ser definido de várias maneiras. Alguns dizem que somos culpados porque herdamos o pecado de Adão. Outros dizem que somos culpados, não porque herdamos culpa, mas por causa de termos nascido como filhos e filhas de Adão, e assim somos culpáveis por causa de nosso nascimento no seio de uma raça decaída. Dessa maneira, a culpa de Adão nos é imputada.

Outra variação diz que não somos culpados quer por pecado herdado quer por culpa imputada, mas porque nascemos em estado separado [de Deus]. Viemos ao mundo como alienados de Deus. Passamos a existir apartados dEle e essa separação é nossa culpa. É essa alienação que nos torna culpados. Alguns dizem mesmo que não somos pessoalmente culpados, mas que nascemos condenados como parte no destino da raça caída.

Mas o denominador comum de todos esses pontos de vista é que somos culpados ou condenados por causa de havermos nascido na família humana. Dessa maneira, contudo, explicamo-lo mediante essas várias abordagens, o que equivale a dizer que culpa ou condenação é herdada por natureza. A natureza decaída é nossa culpa.

Porém, diz ainda mais, isto é, que temos dois tipos de pecado em nossa vida: (1) Somos culpados por causa de nosso nascimento como participantes dessa raça, e, (2) somos também culpados por causa de nossos próprios pecados, nossas próprias escolhas, nossos próprios atos de rebelião.

Ambos os aspectos são pecado. Assim sendo, apesar de haver dois aspectos de pecado, a saber, nosso nascimento numa raça decaída e nossas escolhas rebeldes, ainda somos condenados por causa de nosso nascimento, antes de nossas escolhas. Essa é a linha de fundo da expressão pecado original. Somos culpados ou condenados no momento em que nascemos, em razão do pecado de Adão.

As implicações desse modo de crer são expressas nas seguintes declarações: "Declara-se que o pecado existe no ser antes de sua própria consciência dele." "Há culpa nos maus desejos, mesmo quando resistidos pela vontade." "Pecado é nossa natureza maligna herdada e todos os seus frutos."

Como você pode ver, de acordo com essa definição, o pecado existe em nós antes do exercício da escolha e mesmo antes do conhecimento. O pecado existe em nós antes de podermos compreender e tomar decisões sobre o certo e o errado. O pecado habita em nós por causa de nosso nascimento numa raça corrompida.

João Calvino, um dos maiores teólogos sistemáticos, assim dizia sobre pecado e culpa: "Todos nós ... viemos ao mundo corrompidos com o contágio do pecado... À vista de Deus somos corrompidos e poluídos... A impureza dos pais é transmitida a seus filhos... Todos são originalmente depravados... A culpa provém da natureza." (Ênfase suprida pelo autor). Calvino diz que a corrupção hereditária e a depravação de nossa natureza são designada como pecado por Paulo. Até mesmo as crianças, trazendo consigo sua condenação desde o útero materno, sofrem... por seus próprios defeitos. "E, é claro, isso é pecaminoso à vista de Deus, pois Ele não condena sem culpa. "O homem todo... está tão submerso... que nenhuma parte dele permanece isenta de pecado, e, portanto, tudo o que procede dele é imputado como pecado... Os homens já nascem viciosos... Todos somos pecadores por natureza." — João Calvino, Institutos da Religião Cristã, livro II, cap. 1, # 5-10 e 27; ênfase suprida.

Essa compreensão de pecado esclarece porque a Igreja Católica Romana, Martinho Lutero e João Calvino defendiam a necessidade do batismo infantil. Se, de fato, alguém é culpado por natureza, é extremamente importante que ele seja batizado imediatamente após o nascimento para lavar esse pecado e ser purificado da culpa de nascença. O batismo infantil é extremamente importante para aqueles que lidam com o problema do pecado original. E assim Martinho Lutero e João Calvino defendiam vigorosamente sua necessidade. No nascimento, as crianças devem ser batizadas imediatamente e purificadas do pecado que é inerente nelas. Tanto Calvino quanto Lutero estavam de acordo com Agostinho e receberam dele a compreensão do pecado original.

Lutero e Calvino defendiam ainda a doutrina da predestinação, que também aprenderam de Agostinho. Agostinho cria que Deus havia predestinado todos os homens, quer para a salvação, quer para a perdição. Martinho Lutero e João Calvino seguiam nessa direção e edificaram sua doutrina da justificação pela fé sobre os pressupostos da predestinação. O pecado original se conforma logicamente com a doutrina da predestinação.

Há ainda outra dimensão para crermos que o pecado é inerente em natureza. Quando Adão pecou ele perdeu a capacidade de não pecar, de forma que tudo o que lhe restava agora era a competência de pecar. Quaisquer decisões que Adão fizesse eram pecaminosas. Assim ele, após seu pecado, era apenas capaz de pecar e nós, como membros da decaída raça humana, estamos aptos apenas a pecar. De fato, a única coisa que podemos fazer é pecar e Deus pode apenas perdoar-nos o pecado.

O que estou dizendo é que essa doutrina têm muitos e diferentes modos de ser expressa. Mas o conceito básico, corrente entre todas essas definições, é que somos nascidos pecadores. Somos culpados ou condenados por fazermos parte da família de Adão.

Seria bom notarmos de passagem a reação de Emil Brunner a esse ensinamento: "Assim, a doutrina eclesiástica baseada inteiramente na idéia da queda de Adão e na transferência de seu pecado às gerações posteriores sucessivas, está seguindo um método que não é bíblico em qualquer sentido. Mesmo essa passagem, Rom. 5:12 e versos seguintes., que parece ser uma exceção e tem sido vista como o locus classicus da teologia cristã desde o tempo de Agostinho, não pode ser relacionada como defensora do ponto de vista agostiniano, que tem sido aceito por sucessivas gerações, pois aqui Paulo não está tentando explicar o que é o pecado; no entanto, nada há realmente em Romanos 5 que descreva a natureza do pecado." "A Teoria do Pecado Original, que tem sido a norma da doutrina cristã do homem, desde o tempo de Sto. Agostinho, é completamente estranha ao pensamento bíblico." "Pecado deve ser primeiramente entendido como um ato, a saber, uma 'queda', como o rompimento ativo com o divino início, como o afastamento funcional da ordem divina... Pecado é um ato. Essa é a primeira coisa a se dizer sobre pecado. Apenas como segundo ponto podemos afirmar que esse ato é sempre, e ao mesmo tempo, um estado, uma existência em ação, um estado no qual ninguém pode agir de outro modo, uma condição de escravidão." Emil Brunner, "A Doutrina Cristã da Criação e da Redenção", págs. 98, 99, 103, 109.

Eu gostaria de sugerir que a evidência em apoio à doutrina do pecado original, de qualquer modo que seja explicada, quer pela herança, pela imputação ou por separação, não é ensino bíblico como alguns a têm suposto. Há, pelo menos, outro modo de entender os textos que são usados em suporte ao ponto de vista do pecado original.

Continua...

Jean R. Habkost
Baseado no Livro: Face to Face With The Real Gospel – Pr. Dennis E. Priebe